MÃE STELLA FAZ 84 ANOS. FIRME, CARINHOSA, COMPREENSIVA, UM DOCE DE PESSOA, UMA MÃE ESPECIAL!
A TARDE FEZ ENTREVISTA COM ELA QUE PUBLICO NA INTEGRA:
"Mãe Stella faz 84 anos
Crítica do sincretismo, dirige um dos mais importantes terreiros de candomblé, o Ilê Axé Opô Afonjá
Quinta ialorixá na linha de sucessão do Ilê Axé Opô Afonjá, Mãe Stella de Oxóssi completou 84 anos de vida ontem. Enfermeira aposentada, continua à frente de todas as atividades do terreiro.
Nos 33 anos de comando da casa, desenvolveu uma série de projetos socioculturais, como a Escola Eugênia Anna dos Santos e o Museu Ilê Ohun Lai Lai.
Preocupada em preservar as tradições, foi a primeira ialorixá a escrever livros e artigos sobre a cultura e a essência do candomblé. Entre os títulos que coleciona, estão a comenda Maria Quitéria, a comenda do Ministério da Cultura e o de doutora honoris causa da Universidade Federal da Bahia.
Em entrevista exclusiva à repórter MARTA ERHARDT, ela conta que ainda se surpreende com as tragédias a que assiste na televisão, mas não deixa de se encantar com as maravilhas criadas pelo avanço tecnológico.
A TARDE | | Quais são as recordações de Maria Stella de Azevedo Santos?
STELLA DE OXÓSSI | São inúmeras.
Dá até para esquecer a maioria. Eu me lembro da mocidade, evidente. Quando eu entrei para o axé, era adolescente, com 13 anos. E daí pra cá minha vida tomou uma direção diferente. Fui amadurecendo, tomando jeito de adulto, com mais responsabilidade.
Fui estudar, trabalhar e virei adulta realmente, Mas ainda era nova no candomblé, porque no candomblé a gente só amadurece depois de sete anos.
AT | Aos 13 anos, quando a senhora se iniciou no candomblé, tinha conhecimento da responsabilidade que assumiria?
MÃE | Nem de leve. Não sabia nada. Nesta ocasião, em 1938, tudo era muito velado no axé.
Ninguém falava nem nas casas por causa da proibição, da dificuldade que se tinha. Como a questão de axé era tradição de família, eu, por necessidade da própria tradição, tive que ser iniciada e ingressei aqui no Opô Afonjá.
AT | Há mais de 25 anos a senhora elaborou uma carta em que rejeitava o sincretismo religioso.
ainda há repercussão?
MÃE Graças a Deus. Foi uma semente plantada que germinou e está florescendo. As casas mais novas já conseguiram separar.
Não que um seja melhor do que o outro, mas cada qual no seu espaço. Então, são tradições diferentes, crenças diferentes e não tem porque misturar.
Se você mistura duas coisas, forma uma salada que não adianta nada pra ninguém.
AT | E como a senhora encara os ataques das igrejas neopentecostais? Normalmente associam o demônio ao candomblé.
Como é lidar com isso?
MÃE - Olha, isso é uma grande prova de falta de conhecimento, falta de raciocínio. As pessoas querem fazer essas comparações bobas. Pra falar a verdade não perco muito tempo em prestar atenção ao que eles fazem. Não merecem meu desgaste para debater com eles. Tenho tanta coisa importante a fazer do que estar perdendo tempo com os outros, que não querem evoluir. O que posso fazer?
AT| Como está a relação com a Igreja Católica?
MÃE| Nunca tivemos nada contra o outro. Apenas cada qual no seu lugar. Ainda mais quando a igreja reprimia muito. Agora a igreja não reprime mais. Inclusive estão colocando até atabaques nas igrejas, os padres estão frequentando o axé e tudo mais.
Eles evoluíram também. Viram que o sagrado é sagrado, seja lá em que cultura for. Não tem porque um diminuir o outro. É amena a nossa relação.
AT | A senhora está completando 84 anos. Como é chegar a essa idade?
MÃE | Olha,quando você chegar lá, vai ver como é que pesa (risos).
Ter 84 anos, ter suas ideias e querer se mexer rapidamente, ir lá e voltar, baixar e o próprio corpo já não aceita muito. Mas, por outro lado, você ganha muita sabedoria, porque 84 anos de vida são muitos anos. A gente vê muita coisa boa, muita coisa feia. A vida é uma escola.
AT| E que presente gostaria de receber?
MÃE | Olha, o maior presente é que todos vocês, de acordo com a sua crença e seu merecimento, façam um pensamento elevado ao superior, me pedindo força, energia, inteligência, e que eu tenha discernimento para dar seguimento a minha vida e às das pessoas que precisam do axé.
AT | Que coisas ainda surpreendem a senhora?
MÃE| Olha, toda vez que ligo a televisão tomo cada choque. É cada notícia infeliz que sai aí, né? Cada atrocidade de pai contra filho, mulher contra marido, filho contra a mãe... A gente acha que o ser humano está perdendo o senso de humanidade e está decrescendo.
AT | E as surpresas positivas?
MÃE | Tem tanta coisa bonita que nós temos aí, né? O mundo evoluindo, os Países, por mais distantes que sejam, sempre estão perto, com a evolução da comunicação. Sei o que aconteceu na Nigéria, na França.
Posso até ver imagens de outros Países aqui. E também saber que tem muita gente querendo acertar na vida, ajudando o outro a crescer, cada um de nós descobrindo as suas falhas e procurando consertar.
Isso é que é bonito. Cada um de nós tem uma falha, um defeito, e vamos então procurar nos aperfeiçoar. Para nós, para os outros, para o mundo ficar bonito."
AXÉ
Antonio do Carmo
domingo, 3 de maio de 2009
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